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Caminho Central Português de Santiago

6 ETAPAS . 652km . Altimetria = 6 846m

09.Junho.2016

1º dia . Lisboa - Azinhaga - 124km com uma elevação de total de 432m

Um dos encantos dos caminhos de Santiago é a ilusão de descobrir o caminho através de setas amarelas que estão nos mais variados locais e se apresentam de diferentes formas (pedras, pintadas, marcos, etc).

O km 0 começa na Sé Catedral de Lisboa e daí seguimos pelas ruelas de Alfama até entramos na zona ribeirinha até ao pavilhão de Portugal no Parque das Nações. Continuamos junto ao rio e chegamos a Sacavém onde depois da ponte viramos por um caminho de terra á esquerda que segue junto ao Rio Trancão. Estas zona é um pouco técnica, principalmente 2 km em que o trilho é muito estreito e com bicicletas pesadas com alforges poderá ser sensato fazer algumas partes com a bicicleta na mão. No inverno e com chuva este troço é mesmo muito complicado.

BOAS NOTÍCIAS: em Julho de 2017 este troço foi limpo e aplanado, agora é um "estradão" sem qualquer dificuldade.

ALTERAÇÕES 2018: assim que entramos na terra batida o caminho agora diz-nos para seguir em frente, no entanto e principalmente na primavera e início de verão penso que será mais fácil para as bicicletas seguir para a direita passando por baixo de um pórtico. O novo caminho é um single track como muita vegetação e muitos cardos que nos aleijam as pernas.

No final desses 2km com trilho muito estreito entramos num "estradão" agrícola largo e fácil mas bastante desconfortável devido aos socalcos deixados pelas rodas dos tratores.

Aos 22 km chegamos à primeira povoação, Alpiarte e pouco depois saímos dos trilhos para a estrada e entramos na Póvoa de Sta. Iria onde devemos passar para o outro lado da linha do comboio através de um viaduto (bem sinalizado) e entramos num bonito passadiço em madeira junto ao Rio Tejo. É muito fácil seguir o caminho certo pois temos setas bem visíveis. Em Alverca (32km) junto ao museu do ar temos de atravessar novamente a linha do comboio e podemos fazê-lo no elevador da estação. Dentro das localidades é sempre mais difícil de identificar as setas e marcos porque existe muito ruído visual, existe um marco junto ao pequeno monumento ao 25 de Abril e um pouco mais à frente voltamos aos caminhos agrícolas e a uma estrada com muito pouco trânsito.

No Sobralinho (35km) entramos na N10 (cuidado) até chegar a Alhandra (38 km), aqui entramos numa bonita ciclo via até Vila Franca de Xira (42km) atravessamos um bonito jardim e ao sair dele viramos à direita e vamos entrar numa estrada também com pouco trânsito.

No Carregado (49km) teremos de passar novamente a linha do comboio pela estação e entramos numa pequena ciclo via (logo depois da estação temos uma fonte onde poderemos reabastecer de água). E em seguida entramos numa agradável estrada com muito pouco trânsito e sabe bem rolar pelo alcatrão.

Chegamos a Vila Nova da Rainha (54 km) e aconselho a entrar direto na estrada Nacional 3, ao seguir as setas entramos dentro da vila e passamos por uma zona muito gira com duas pontes, no entanto um pouco mais à frente temos de voltar a entrar na N3 e temos de a atravessar o que é bastante perigoso pois existe muito trânsito e a grande velocidade.

ALTERAÇÕES 2018: Já existe caminho paralelo à N3 por um estradão largo mas com bastantes trepidação.

Continuamos pela N3 até chegar à Azambuja (60 km) passamos por dentro da localidade e teremos mais uma vez de passar a linha do comboio pela estação. Entramos numa estrada ladeada de árvores (N3-3) e com o rio ao nosso lado direito, depois de passar a ponte viramos à esquerda e entramos num agradável trilho de canaviais.

Com 74km nas pernas chegamos a Valada um local muito agradável para uma paragem e almoçar, quer seja no parque de merendas, quer seja num dos vários restaurantes e bares existentes. Podem comer uma sopa da pedra no bar junto ao rio.

Energias repostas é tempo de voltar ao caminho, e temos cerca de 20km até Santarém. Começamos a pedalar paralelos ao rio junto ao dique (temos vários pontos de abastecimento de água nesta estrada). O alcatrão acaba e entramos na terra batida numa zona ladeada de árvores até que por fim a sombra nos deixa e entramos numa zona de cultivo sem sombra e com o terreno marcado pelos pneus dos tratores o que dificulta o rolar suave da nossa bicicleta (dependendo da altura do ano pode ser melhor ou pior) e são cerca de 8/9km neste caminho. Até que avistamos o viaduto de Santarém e entramos no alcatrão, passamos por um aeródromo e em seguida chegamos a Omnias, passamos por baixo da linha do comboio e iniciamos a inclinada subida até Santarém. A meio temos uma fonte onde nos podemos refrescar mas atenção que não é água potável. Já em Santarém (94km) não podemos deixar de provar uma pampilho (primeiro café à esquerda antes de entrar na rotunda - toldo castanho), bolo típico e apreciar uma pouco a cidade. Até aqui a sinalização foi sempre muito clara e as setas amarelas (Santiago) e Azuis (Fátima) estiveram sempre lado a lado. Daqui em diante os caminhos seguem direções distintas. Saímos de Santarém pelo jardim as Portas do Sol com uma vista deslumbrante e por um caminho deslumbrante mas que nos obriga a fazê-lo com a bicicleta na mão pela quantidade de degraus e raízes de árvores bem como inclinação.

No final da descida vamos chegar à Ribeira de Santarém e aqui é necessário algum cuidado para encontrar-mos as setas, temos de passar a ponte e ficar de costas para a fonte. Entramos numa estrada de alcatrão e um pouco mais à frente teremos de tomar a decisão de cumprir o caminho a 100% e entrar numa caminho entre vinhas muito penoso para quem leva alforges ou seguir paralelo pelo alcatrão. Encontramos num poste uma cruz para não seguir no alcatrão mas aconselho-vos a tomarem esta opção porque a estrada é paralela, não tem trânsito e o caminho um pouco mais à frente desemboca nela.

O final de etapa está próxima-se e entramos em Vale Figueira (107km) e aqui vamos ter novamente que tomar ema decisão, virar á direita logo depois do café Sibuca e entrar num trilho sinuoso com descidas e subidas e onde temos de ir muito atentos às setas pois é muito fácil passar sem as ver. Ou seguir pela estrada de alcatrão sempre a descer.

A próxima localidade é Pomblainho (116km) onde temos uma ou duas fontes para nos abastecermos de água se necessário, atravessamos toda a aldeia e entramos num trilho que nos leva ao final da etapa de hoje - Azinhaga (120km)

Azinhaga é a terra onde nasceu José Saramago, e existem várias referências ao escritor. Fiquei a dormir na Casa da Azzancha com nota máxima, quer pelas boas condições da casa quer pela simpatia da Helena Santos - 5 estrelas! Quarto triplo com camas e roupa, casa de banho no quarto e pequeno almoço - 20€. Quintal para guardar a bicicleta e tanque para lavar roupa e secar.

 

10.Junho.2016

2º dia . Azinhaga - Rabaçal - 102km (acumulado de 226km) com uma elevação de total de 1257m

Inicio o segundo dia por volta das 7h00 e sigo pela estrada de alcatrão que atravessa a Azinhaga e a primeira seta do dia manda-nos para a esquerda e entramos na terra batida, passamos pela Quinta da Broa (o cão está preso) e voltamos de imediato à estrada, é um desvio de 500m. E seguimos pela mesma estrada até chegar à Golegã (131km) entramos por uma bonita praça/rotunda onde podemos contemplar a igreja e atenção às setas, temos de as procurar mas vamos ter de seguir pela direita da praça. Rapidamente chegamos a Vila Nova da Barquinha (140km) que não é muito interessante e atravessamos a linha do comboio por uma passagem estreita e uma pouco mais à frente temos a Atalaia (143km)

Vamos entrar numa zona de eucaliptos que nos conduz a umas das piores e mais difíceis subidas do caminho, as setas começam a escassear mas ainda as consigo encontrar, muitas vezes nos postes de alta tenção. Chegamos a uma ponte que passa por cima da autoestrada e uns metros depois temos uma seta desenhada no chão com pedras a apontar para aquilo que julgamos ser impossível de subir - piso de seixos redondos e escorregadios e uma inclinação do outro mundo. Com a bicicleta carregada de alforges é preciso muita força para conseguirmos ultrapassar este troço do caminho.

Quando chegarem ao cimo da subida não festejem porque ainda vem outra!

Mas como tudo é possível aquilo que julgávamos impossível já ficou para trás e cheia de moral continuo a pedalar em frente e temos uma seta num poste que nos guia (não devem seguir pela descida vertiginosa). Quando chegamos a uma bifurcação sem setas devemos seguir para a direita, passando por baixo dos postes de eletricidade. A partir daqui deixei de ver setas e andei bastante perdida numa zona muito difícil, é talvez dos troços piores sinalizado sde todo o caminho. Por fim entro no caminho e depois de uma bela descida chego à Asseiceira (154km). Na entrada da Aldeia temos uma fonte junto a um lavadouro ideal para encher o cantil e descansar um pouco. Seguindo caminho cheguei a uma rotunda onde optei por seguir em frente para e rapidamente cheguei a Tomar (162km).

O conselho de Tomar é sem dúvida alguma o pior ao nível da sinalização e voltei a andar às voltas para encontrar setas, finalmente no largo da igreja aparece-se uma seta mas não muito clara, mas devemos descer pela rua pedonal (antiga corredora) atravessei a ponte e virei à direita e infelizmente a setas deixaram de existir. Quando cheguei perto da linha do comboio encontrei uma seta e entrei num caminho muito bonito junto ao rio mas com um nível de dificuldade elevado para o meu nível de ciclismo, muito estreito com raízes, pedras e curvas. Fiquem com a sensação que deveria ter atravessado a linha do comboio para seguir por uma estrada paralela ao rio. Mas tentei procurar a ponte romana e pode ser que tenham mais sorte que eu.

Fui seguindo o instinto e seguindo pelo caminho que me parecia mais transitável até que encontrei duas simpáticas senhoras que me confirmaram que iria conseguir chegar a Casais (172km). Para chegar a Casais entramos no alcatrão e enfrentamos algumas subidas, depois de Casais passamos por Calvinos, Alviboeira, Alvaiázere. Começamos a ver finalmente marcos mas muitos deles têm apenas a Vieira (concha de Santiago) o que trás sempre alguma hesitação e ansiedade. Empedrado, pedras, e terra batida é o tipo de solo predominante nesta fase e o desnorte continua, até encontrei uma seta que me enviava para uma estrada sem saída perto de Alvaiazere (192km). As subidas e descidas também são muitas.

Em Ansião (207km) no largo da igreja encontramos uma seta, depois de sair desta localidade temos uma grande subida e descida vertiginosa com sulcos de água (cuidado) em Alvorge (215km). Entramos depois num trilho com muita pedra (por vezes tive de levar a bicicleta à mão) e este trilho é contrário ao Caminho de Fátima e é engraçado cruzarmo-nos com os peregrinos de Fátima. E assim continuei até entrar em Rabaçal (226km) e logo encontrei a Pousada onde fiquei, no lado direito da estrada.

Fiquem no Centro Turístico do Rabaçal num quarto individual com casa de banho e roupa de cama - 15€. A bicicleta fica na sala comum. Em frente temos uma mercearia e ao lado uma restaurante com menus a 5,80€.

 

11.Junho.2016

3º dia . Rabaçal - Águeda - 90km (acumulado de 316km) com uma elevação de total de 1039m

O dia começou com um furo e ainda antes de começar a rolar, quando cheguei à sala para iniciar a jornada tinha o pneu traseiro em baixo. Troquei a câmara de ar e segui caminho com alguma cautela pois se furasse mais uma vez não tinha mais nenhuma câmara de ar. A partir daqui o caminho está muito bem assinalado e apesar das subidas e trilhos dificieis é mais tranquilo sabermos que estamos no caminho certo, continuamos a cruzarmos-nos em sentido contrário com os peregrinos de Fátima.

Depois de uma subida chegamos à parte de trás das ruínas de Conimbriga (237,5km) continuei sempre com boas indicações passo por Cernache (244km) e sempre com as subidas e descidas.

A manhã está a correr bem até que avisto pela primeira vez Coimbra junto a um miradouro num cantinho muito bonito a que as fotos não fazem justiça em Mesura (223km). Estou num alto e começo a descida para Coimbra sem antes para para visitar o bonito Convento de Sta Clara (225km).

Continuo a descer até que estou mesmo em frente ao Portugal dos Pequeninos sinal que cheguei a Coimbra (256km). Tinha de encontrar uma loja de bicicletas para comprar uma câmara de ar, e assim que vi um ciclista vai de perguntar e foi muito fácil até chegar á dita loja. Compra feita, fui pelas pequenas ruelas de Coimbra até à bonita Praça do Comércio e aí estando de costas para a Igreja de S. Tiago segui pela estrada Adelino Veiga atravessei a estrada e com a estação de comboios à minha direita virei também à direita entrei na estrada paralela ao rio Mondego já com as setas bem visíveis. Circulamos por uma agradável ciclovia até que entramos na terra batida.

Infelizmente um troço do caminho leva-nos até à N1 - cuidado. O civismo e respeito pelos ciclistas da generalidade dos condutores portugueses é nenhum! E chego à Mealhada (282km) para um super almoço no jardim central. Dali fui até à rotunda e segui direção Porto e na 2ª rotunda novamente Porto/Buçaco e entrei numa ciclovia. Atenção à seta que está junto ao Restaurante Típico e nos manda virar à direita e depois um pouco mais à frente viramos novamente à direita. A aproximação à Anadia (292km) faz-se a rolar muito bem e a zona apesar de estar bem tratada e arranjada é na minha opinião das mais feias do trajeto por estar tão descaracterizada.

Cheguei a Águeda (311km) com relativa facilidade e 5km depois desvio-me um pouco do caminho para chegar à Residencial O Trindade local da minha pernoita. A residencial fica mesmo ao lado da antiga fábrica da Famel e em frente a um hipermercado e McDonalds, mas aconselho vivamente a comerem na pousada um dos belos pratos caseiros da D. Lucia. Fiquei num quarto individual com casa de banho e a bicicleta numa arrecadação. O sr Trindade e a d. Lucia são de uma simpatia estrema e vale bem a pena ficar à conversa - dormida e jantar - 27€

 

12.Junho.2016

4º dia . Águeda - Vilarinho - 110km (acumulado de 426km) com uma elevação de total de 1387m

Voltei à estrada por onde tinha chegado e pedalei para trás alguns metros até que encontrei a seta e entrei no trilho pouco tempo depois deparei-me com uma paisagem deslumbrante, uma ponte romana sob o rio Vouga muito sereno com o reflexo da vegetação, depois de carradas de fotografias sigo caminho. Um pouco mais à frente a seta manda-me fazer uma subida íngreme em empedrado para de seguida descer e voltar à estrado onde estava (não vale a pena o esforço). Em muitas partes do caminho acontecem estes desvios algo ridículos pelo menos para quem se desloca de bicicleta. Sempre a subir e a descer chego a Albergaria-a-Velha (328,5 km) e as subidas continuam a ser a palavra do dia, ora muito inclinadas ora muito longas. Passei por Oliveira de Azemeis (351,5 km), S. João da Madeira (361 km) com um monumento na praça central muito estranho e de gosto duvidável. Continuei e um pouco mais à frente entro na N1 (cuidado), até que nestas pequenas localidades a subir e a descer encontrei o primeiro bicigrino de toda a viagem, do Canada um senhor já bem avançado na idade - que emoção. Conversámos e pedalamos um pouco juntos e depois acabámos por nos separar.

O caminho não levanta muitas dúvidas, entramos numa zona de viadutos e vias rápidas em que é necessário estar atento mas as setas estão muitas vezes nos lancis ou rails da estrada.

Em Grijó (381 km) vale bem a pena visitar o bonito Mosteiro e claro aproveitar para carimbar a certidão. Daqui em diante vamos ter muito empedrado e uma subida de estrada romana e em escada muito difícil (a empurrar a bicicleta).

Até que me aproximo de Vila Nova de Gaia (395 km) e vou deparar-me com uma seta que me manda para umas escadas, tenho de continuar por essa rua e contornar a escadas para no final da subida chegar a numa rotunda um pouco confusa, é para descer a avenida paralela ao metro. No fina desta avenida deparo-me com uma vista do outro mundo - cheguei ao Porto (398 km) e o Douro e a Ribeira forma umas das mais belas paisagens desta viagem. Passei a ponte D. Luís com a bicicleta na mão, pois a afluência de peões era muita e chego à catedral, a decida por uma ruela é muito interessante e faz-me lembrar Alfama, continuo a seguir as setas até entrar na Rua das Flores. Aqui muita atenção porque o caminho divide-se: por Barcelos ou por Braga. Eu queria ir por Barcelos para cumprir o caminho original e temos de estar atentos porque existe uma seta na parede do lado esquerdo que nos manda subir uma rua super inclinada para quem segue por Barcelos. Por ironia nessa rua para mim impossível de subir a pedalar existe uma loja de aluguer de bicicletas. Continuo a subir mas agora já na bicicleta com setas bem visíveis até chegar à Maia (411 km), segui pela estrada numa zona de muito tráfego e muito feia.

Depois perdi-me várias vezes até conseguir chegar a Vilarinho (425 km), depois de muitas voltas e perguntas e de repente deparo-me com um sinal a indicar Casa da Laura, o meu albergue desta noite. A Casa da Laura é um local agradável com um bonito jardim, mas o quarto com 4 beliches é demasiado pequeno e não existe sala ou cozinha comum. Como começou a chover o jardim não é opção pelo que o espaço fica demasiado pequeno e apertado para as 7 pessoas que estavam na camarata e mais 4 num quarto em frente.

 

13.Junho.2016

5º dia . Vilarinho - Qta. Estrada Romana - 99km (acumulado de 525km) com uma elevação de total de 1362m

Viagem molhada viagem abençoada ... será? não concordo, mas lá teve de ser. Este 5º dia começou com chuva miudinha que com o andar da bicicleta parece sempre com mais intensidade. As setas continuam a ser frequentes e rapidamente cheguei a outra ponte romana desta vez sobre o rio Ave - Junqueira (437,5 km) e tal como o dia de ontem o piso predominante é infelizmente o empedrado.

A entrada em S. Pedro de Rates (437,5 km) é muito gira, uma localidade muito coerente a nível arquitectónico e com várias igrejas e monumentos muito interessantes. Como chovia e ainda era muito cedo não havia absolutamente ninguém nas ruas. Continuando com subidas e descidas constantes passei por Pereira (448 km), Carvalhal (450 km). Os albergues que até ao Porto são escassos começam a ser cada vez mais frequentes.

E chego a Barcelos (454 km) já muito ensopada e com muito frio pelo que resolvi encontrar uma loja do chinês para comprar um poncho e alguma roupa seca. Apesar da chuva e do frio Barcelos é uma cidade muito interessante e bonita e os galos gigantes existentes pelas ruas são um "must" bem como a vista para o Rio Cávado.

E sempre com chuva continuo a rolar por diferentes tipos de caminho com terra batida, empedrado, estrada romana mas sempre um denominador comum - a beleza dos locais, o contraste do verdes com a pedra é muito interessante.

A chegada a Ponte de Lima é muito bonita e no meu caso foi bem engraçada porque havia um grande mercado mesmo no local onde penso que estavam as setas, mas foi apenas passear pela feira e desfrutar do momento, com toda aquela agitação boa, música a sair da igreja do outro lado da ponte (marchas de Lisboa) e as pessoas bem arranjadas porque era domingo e dia de mercado. Continuando caminho lá se foi alternando com subidas longas e pouco inclinadas ou curtas mas muito acentuadas, mais alguma calçada romana, mas a dificuldade do dia ainda estava para vir - a serra da Labruja (505km)

O pesadelo dos ciclista, não é só a inclinação que este troço têm mas sim as rochas e pedras grandes que fazem com que a ascensão seja quase uma escalada. Com a bicicleta carregada com alforges pode ser bem problemático e quem se sinta com menos forças poderá ser uma boa opção desmontar os alforges e fazer a subida por duas vezes. No entanto com calma e ganhando alguma técnica da melhor forma de subir é fazível, com o terreno seco. Em altura de chuva penso que a dificuldade triplica.

Quando chegarem à Cruz dos Franceses (506km) local algo mórbido e estranho não pensei que a subida está acabada, pois ainda vamos ter de penar um pouco mais, estamos a meio da subida e nesta fase podemos "fugir" e seguir pela estrada, mas penso que a recompensa de termos alcançado o topo da Labruja vale a pena o esforço. Quando alcançamos o topo podemos ver lá bem do alto tudo o que ficou para trás.

Continuei caminho e finalmente cheguei ao albergue desta noite - Quinta da Estrada Romana (527km), um albergue muito bonito e bem recuperado. Jantei no albergue com os restantes peregrinos, o Luca (empregado) e o dono do albergue. Foi um jantar muito interessante repleto de histórias de cada um de nós - recomendo vivamente este local.

 

14.Junho.2016

6º dia . Qta. Estrada Romana - Santiago - 127km (acumulado de 652km) com uma elevação de total de 1371m

A chuva continuou e ainda com mais força, o dia começou bem cedo como habitual (6h15) e chego a Valença (530km) ainda muito cedo com a cidade a dormir. Subimos e descemos o castelo num percurso que vale bem a pena o esforço. Chegamos à bonita ponte que une Valença a Tui e avisto o rio Minho, a fronteira é um pouco mais à frente. As setas em Tui (532km) levam-nos como é habitual aos principais locais da localidade, um pouco depois de Tui temos duas opções de caminho: a tradicional (7km) que atravessa uma zona industrial e uma alternativa (9km) por trilho. Opção feita (tradicional) sigo caminho, o caminho em Espanha obriga-nos muitas vezes a fazer pequenos desvios em que temos de atravessar a nacional 550, para pouco mais à frente ter de a voltar a atravessar para o lado onde íamos inicialmente. É bastante perigoso pois a estrada tem muito trafego. Outro aspeto negativo é que muitas descidas bastante inclinadas terminam mesmo em cima das estradas principais o que pode ser também muito perigoso para as bicicletas.

Confesso que com a chuva, frio e ansiedade de chegar vou atravessando terra atrás de terra sem parar para apreciar, O Porriño (549km), Redondela (566km), Arcade (573,5km) e como os espanhóis dizem a Galiza para as bicicletas é o "rompe piernas" com as suas constantes subidas. Em Pontevedra (585km) a chuva intensificou-se ainda mais e como é uma grande cidade cheia de pessoas e carros sai de lá o mais rapidamente que pude.

Aqui o número de peregrinos no caminho é muito maior e é frequente cruzar-me com gente de todos os cantos do mundo. As subidas e descidas também muito íngremes bem como as dificuldades de terreno como a lama continuam.

Estou cada vez mais perto, Padron (629km) que segundo reza a lenda foi onde a barca de Santiago ancorou e onde o santo foi sepultado, vale a pena visitar a igreja. E a viagem continua, até que chegamos a uma bifurcação com duas opções e optei pela esquerda por intuição. Aqui é uma zona muito feia sempre a subir, subir, subir e de repente estou numa praça com muita gente, esplanadas e carros - SANTIAGO DE COMPOSTELA!! finalmente cheguei, e dali foi só subir a rua até à praça do Obradoiro. Confesso que estava tão cansada e molhada, a catedral cheia de andaimes e praça vazia que não desfrutei o momento. Só no dia seguinte depois de uma noite em dormida, de um banho, já com roupa lavada e sequinha voltei à praça e ali fiquei sentada por algum tempo debaixo das arcada a apreciar todo aquele fenómeno. Depois disto fui à oficina do peregrino levantar a minha Compostela e às 12h assisti à missa do BotaFumeiro, que penso vale a pena assistir. Se quiserem ficar sentados devem chegar pelo menos com 1 hora de antecedência. Se chegarem mesmo às 12h não conseguem sequer entrar na catedral.

Em Santiago resolvi ficar numa residencial porque estava a precisar de algum "mimo" e também porque os albergues nos meses de Verão estão normalmente lotados. Fiquem na "Pensión Residencial Hortas" a 200 metros da praça da catedral e recomendo vivamente.

O caminho é muito bonito mas é claro que em tantos km vamos apanhar um pouco de tudo, e também passamos por zonas mais feias e desagradáveis. Está bem assinalado, excetuando o conselho de Tomar. Mas nota-se que em Espanha existem não só mais sinalização como albergues e infra-estrutura de apoio. No entanto a parte Portuguesa parece ainda um segredo bem escondido e uma pérola, porque é tudo ainda muito puro e sem interesse.

O regresso a Lisboa foi algo atribulado porque havia greve de comboios, mas até acabou por sair bastante bem. Apanhei um comboio às 6h20 até Vigo onde posso levar a bicicleta por mais 3€, e Vigo subi até às estação de autocarros (+- 4km) e apanhei um autocarro até ao Porto (só tive de tirar a roda da bicicleta) e do Porto para Lisboa outro autocarro (não precisei desmontar a roda) que me deixou na expo.

Posteriormente soube que a ALSA têm um autocarro a sair todos os dias de Santiago às 12h direto para Lisboa. A bicicleta tem de estar embalada. Papel celofane pode ser uma excelente alternativa.

Os bilhetes para comboio ou autocarro podem comprar-se numa dependência dos Correios ao lado da oficina do peregrino.

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