Caminho Português da Costa (Porto)
- Isa Sebastião
- 11 de dez. de 2016
- 7 min de leitura
3 Etapas . 274km . Altimetria = 2775m
01.Dezembro.2016
1º dia . Porto - Carreço - 104km com uma elevação de total de 666m
O meu terceiro caminho no ano de 2016 e o primeiro no Inverno e com companhia (Sérgio Silva). A roupa de inverno enche-nos os alforges bastante mais mas como partimos do Porto esta viagem teve apenas 3 dias de pedaladas e 1 de regresso. Confesso que o frio me assusta bastante e parti com algum receio, mas o S. Pedro foi "amigo" e deu-nos 3 fabulosos dias com frio QB, sem chuva e com paisagens lindíssimas. Esta altura do ano será das mais bonitas, pois as tonalidades amarelas, castanhas, vermelhas das árvores dão um encanto especial ao caminho.
Viajamos de Lisboa para o Porto na noite anterior e ficámos albergados no recente Albergue de Peregrinos do Porto que recomendo vivamente, quer pelas excelentes e novas instalações quer pela forma como fomos recebidos - OBRIGADA!
No horário de Inverno as horas de sol são mais reduzidas e temos de planear bem as etapas de forma a evitar finais de dia sem luz e com a temperatura a arrefecer bastante. É sempre mais seguro começar o dia bem cedo e se necessário ainda sem luz (uma vez que o dia irá nascer necessariamente em poucas horas e a temperatura aumentar), do que acabar o dia sem luz.
O caminho da Costa é talvez aquele que poderá ter mais variantes e optamos por evitar a zona de saída do Porto (original) pela nacional e que penso é comum ao caminho central e fomos direitos à Ribeira e aí apanhamos o caminho (mais recente) que segue a orla marítima. O albergue fica perto da rotunda da Boavista e para chegar à zona ribeirinha passamos pela Torre dos Clérigos, livraria Lelo e Avenida dos Aliados numa agradável e bela descida até encontrar o lindíssimo rio Douro.
Do rio, passamos ao mar e vamos por ciclovias marítimas passando por Matosinhos, Vila do Conde e Póvoa de Varzim.
Antes de Vila do Conde passamos por zonas mais rurais, temos uma passadiço com algumas escadas mas vale a pena enfrentar aquela dúzia de escadas para poder desfrutar da vista (Labruje). Entramos em Vila do Conde a atravessar a ponte sobre o rio Ave e viramos à esquerda onde podemos ver uma réplica de uma náu quinhentista. Nesta zona não encontramos setas mas a referência do mar é o nosso guia. Depois de Vila do Conde voltamos a orla marítima e assim seguimos até à Póvoa de Varzim desviámo-nos da ciclo via para entrar na zona histórica e conhecer a igreja de Santiago. Visita feita, regressámos à orla marítima e continuamos a pedalar junto ao mar. As setas não são muito frequentes mas vão aparecendo de quando a quando e o suficiente para sabermos que estamos bem. Um pouco mais à frente temos uma zona de passadiços de madeira e não percebemos muito bem se podíamos circular e como tal optamos por ir mais ou menos paralelos por estradas rurais e de empedrado.
Passamos por Apúlia e Fão onde comemos num restaurante muito bom ainda antes da entrada na vila e que até tem carimbo: Chalé Tapas Bar. Depois de Fão atravessámos o rio Cávado e chegamos a Esposende onde voltamos a uma ciclovia muito agradável e muito tranquila (calculo que no verão estas ciclo vias estarão muito cheias de gente).
Depois de Esposende vamos passando por lugares e aldeias num ambiente muito rural. Por volta do km 77 entramos numa zona de bosque muito bonita, passamos por um bloco de pedra esculpida no mapa de Portugal e com o caminho representado e um pouco adiante temos de sair das bicicletas porque temos pedras muito grandes para descer. Esta zona vai desembocar num dos locais mais belos no caminho - Castelo de Neiva.
Depois das devidas fotos entramos na primeira grande subida do dia de hoje (alcatrão). A meio da subida parámos para conversar com um rapaz super simpático que nos ofereceu água e convidou para a festa da sobrinha e ainda foi chamar o primo que nos deu algumas informações muito úteis para os km que se seguiam. No final da subida e depois das explicações do pessoal de Neiva visitámos a igreja (porta aberta do lado direito) que tem carimbo e é a mais antiga de Portugal dedicada ao S. Tiago.
Continuamos por campos e bosque e algumas zonas rurais de empedrado até avistarmos o Rio Lima e entramos em Viana do Castelo. Em Viana do Castelo o dia já estava a acabar e tínhamos mais 30 a 40 minutos de luz, tivemos de decidir o que fazer relativamente à pernoita. Como o meu amigo Nuno Mendes me tinha aconselhado um albergue novo em Carreço como o melhor albergue do mundo resolvermos arriscar e seguir mais um pouco. No entanto e para não correr riscos e uma vez que não conhecíamos o caminho optamos por fazer o que faltava pela N13 são cerca de 7km que se fazem muito bem. Ao chegar a Carreço vindo da N13 temos de virar à direita quando avistamos o edifício da escola e da sociedade e seguir por aí um pouco mais à frente já vamos encontrar as setas que passam à porta do albergue: Casa do Sardão. Chegámos já noite e abrimos a porta e entramos, pouco depois aparece uma simpática senhora que nos recebeu super bem e o albergue é mesmo o melhor do mundo! uma casa super bem recuperada e decorada, e com todas as condições de um hotel por 12€ - fantástico!! Depois de bem instalados saímos para jantar, e o Café do Adro é também um paraíso escondido, não se deixem enganar pelo aspeto de café. Servem refeições e das boas!!

02.Dezembro.2016
2º dia . Carreço - Redondela - 85km com uma elevação de total de 859m
Depois de uma noite super bem dormida num super colchão e com um mega edredom e fronha e até toalhas turcas, fizemo-nos ao caminho com as setas à vista e depois de estarmos paralelos à linha do comboio entramos numa descida bem divertida em terra e bosque fechado. Tão divertida que penso passamos a seta e onde deveríamos ter virado à direita seguimos em frente e viemos sair a Afife onde tomamos o pequeno almoço. Este engano poupou-nos tempo e pernas, pois estávamos preparados para uma dura subida pela serra e assim foi sempre a descer em plano em empedrado paralelos às N13 até que entramos novamente na nacional e chegamos a Vila Praia de Ancora.
Em Vila Praia de Ancora voltamos a encontrar as setas e estamos novamente no caminho certo. Rapidamente avistamos a bonita praia de Moledo e chegamos a Caminha e à sua praça da Torre do Relógio e ao Café Central do Sr. Tomás. Ali despistámo-nos das setas e andamos um pouco perdidos mas assim que avistámos o rio Coura e a ponte fomos direita a ela.
NOTA: Em Caminha tomámos a decisão de sair do caminho da Costa e ir ao encontro do caminho Central em Valença. Como à hora em que chegámos a Caminha a maré estava baixa só havia barco para La Guarda bastante mais tarde e a opção de fazer mais 30km de nacional para fazer o desvio pela ponte de Vila Nova da Cerveira pareceu-nos menos interessante do que seguir para Tui.
Um pouco mais à frente entramos numa eco pista muito muito bonita que circula ao lado do Rio Minho. No entanto este primeiro troço da eco pista termina e temos de entrar em terrenos agrícolas, sair e voltar a entrar um pouco mais à frente. Talvez seja mais sensato seguir um pouco mais pela N13 e entrar na eco pista apenas na "Estrada da Mota" e por aí seguimos até praticamente a Valença.
Um pouco antes de chegarmos à subida dos bombeiros as Sra. Maria Bonança presenteou-nos com uns belos dióspiros do seu jardim que nos deram ainda mais força e animo - Obrigada!
Em Valença subimos ao castelo e seguimos para a bela ponte Valença - Tui. Passamos a ponte e entramos finalmente em Espanha, parámos no centro de turismo de Tui onde nos deram um folheto a explicar a alternativa criada ao caminho para não passar no polígono industrial. Ainda existe algum caminho (+- 7km) até chegar à tal alternativa em Orbenlle e optámos por ela. No entanto e como fiz anteriormente o caminho pelo polígono penso que a alternativa não é muito vantajosa pois é muito mais demorada, tem umas subidas muito acentuadas e não é bonita o suficiente que justifique acrescentar mais de 1 hora ao caminho, pelo menos na minha opinião. Saímos da alternativa quando encontramos a A-55, uma estrada muito movimentada e bastante perigosa e que infelizmente o caminho nos faz atravessar várias vezes. Temos de circular pela A-55 e devemos ficar atentos pois as setas vão mandar-nos virar à esquerda e entrar nas ruas de Porriño.
Depois de Porriño enfrentamos as subidas do dia, longas e algumas curtas mas muito inclinadas. No final destas subidas (+- aos 78km) começamos a descer e é sempre a rolar até chegar a Redondela onde terminamos o dia. Redondela é uma terra feia mas o albergue municipal onde ficámos é bastante bom (6€) e encontrámos duas das grande figuras do caminho, o Profeta e o Catalão.

03.Dezembro.2016
3º dia . Redondela - Santiago Compostela . 87km com uma elevação de total de 1250m
Mais uma noite bem dormida! Hoje resolvemos acordar um pouco mais cedo para podermos chegar a Santiago sem pressa e ainda com luz do dia. Um pouco antes das 7h00 e ainda com noite escura estávamos na estrada a seguir setas com alguma dificuldade e cuidado. Esta jornada começa na estrada N550 e depois de poucos km (+-2km) vamos encontrar uma subida entramos numa zona de bosque e subimos um pouco mais até que encontramos um painel feito de vieiras de Santiago. Quando avistamos o rio começamos a descer e atravessamos a bonita ponte de Arcade, infelizmente ainda estava bastante escuro pelo que não podemos apreciar toda a beleza daquele local.
Chegamos a Pontevedra com o nascer do dia e com muito frio, fazemos uma paragem para um belo 2º pequeno almoço. Daqui até Caldas del Rei continuamos com subidas fortes, algumas por estrada outras por terra batida. A ansiedade de chegar a Santiago começa a chegar e rapidamente chegamos a Padrón, rolando por bonitos caminhos ladeados de grandes árvores com diferentes tonalidades e o chão coberto de tapetes de folhas.
Com a aproximação a Santiago começamos cada vez mais a passar por pequenas localidades mais urbana e a confusão começar a aumentar. A entrada em Santiago cidade é feia e confusa mas chegamos finalmente à Rua Franco e à tão esperada Catedral na praça do Obradoiro. Mais uma viagem a Santiago completa!
Chegamos por volta das 17h ainda tivemos tempo para ir à oficina do perigrino, instalarmo-nos no Albergue Last Stamp e passear um pouco. O dia finalizou com um belo jantar no Los Manolos na praça Cervantes.
No dia seguinte optamos por viajar de volta para o Porto nos autocarros Alsa (54€ com bicicleta), embalámos as biciletas e às 12h arrancámos para uma viagem de 4 horas.
